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sábado, 9 de novembro de 2013

Filosofia


"É através da imaginação [...] que se descobre o marco do possível. Quem não se atreve a conceber o impossível jamais poderá descobrir o que é possível. O possível é o resultado da submissão do impossível ao critério da factibilidade." (Hinkelammert, 1988)

O saber e o saber fazer ganham uma espécie de caráter instrumental. Ou melhor, eles não têm sentido isolados do para que saber e fazer. O romantismo, que acaba acontecendo no interior das instituições se revela quando se confunde "saber bem" ou "fazer bem" com "conhecer o bem" e "fazer O bem". Isso precisa ser negado, quando procuramos uma consistência para o desempenho do papel do profissional na contribuição que dá à construção da sociedade. A ação do profissional envolve inteligência, imaginação, sensibilidade, afeto. É necessário, entretanto, evitar o afetivismo, que se manifesta na atitude romântica.

Quando se faz o convite à reflexão filosófica no campo empresarial, podem-se encontar reações muito diversas. As ações morais têm sua origem nos costumes de cada sociedade e o que é costumeiro é confundido, muito frequentemente, com o que é bom. "já que o costumeiro, não é mau", logo ... será que é bom?

Em uma reunião de equipe eu vivenciei algo no mínimo intrigante e adjetivei o fato de "estranho". No momento em que trouxe a minha proposta de NÃO praticar o costumeiro (deixar de comunicar o que se espera dos nossos colaboradores), um colega interrompeu a reunião e disse: "Aqui nós não filosofamos, vamos logo trabalhando porque é isto que interessa!."

O esforço filosófico, como exercício de crítica, implica uma atitude humilde e corajosa:

  • Humilde no sentido de reconhecer os limites que existem nas situações vivenciadas. Só quem reconhece que não sabe, que há ainda muito por ser conhecido, empreende uma busca no sentido de ampliar seu saber.
  • Corajosa porque é sempre um gesto de provocação e, por isso, sempre tende a enfrentar perigos, ameaças. O olhar crítico desvenda, aponta coisas que podem incomodar, desinstalar, exigir mudanças para as quais muitas vezes não se está preparado.

Num mundo com as características globalizadas, ou globalmente segmentadas, requer-se dos profissionais, mais do que nunca, uma atitude crítica no sentido de questionar o seu papel e de não só buscar atender as demandas - muitas vezes discutíveis - do mercado, mas de questioná-las e intervir na direção das mudanças necessárias. Isso implica realizar um trabalho de boa qualidade, um trabalho competente.

Na parte que nos cabe aparece a contribuição da filosofia, da reflexão crítica, não como norteadora, mas como esclarecedora, em sua busca de compreensão.


É a reflexão que nos fará ver a consistência até de nossa própria conceituação, e que articulada à nossa ação, estará permanentemente transformando o processo social, o processo educativo, em busca de uma significação mais profunda para a vida e para o trabalho.




Perguntas que a filosofia irá fazer insistentemente são:

  • o que resulta de nossa intervenção na realidade?
  • para que e por que realizamos nosso trabalho?
  • que significado tem isso para a sociedade em que vivemos?

Bem, o que é Filosofia então?

Cunhada por Pitágoras na Grécia do século VI a.C., philosophia, philia significa  "amizade" e sophia significa "sabedoria". Logo filolofia significa "procura amorosa da sabedoria". A admiração, a dúvida, as questões existenciais, aquilo que se converte em problema para os homens é que os leva a filosofar (assumir uma atitude filosófica).

No entanto é preciso garantir a ideia de que tanto na dimensão técnica quanto na dimensão estética e na política também se encontra a ética.


  • Dimensão técnica

Domínio dos saberes (conteúdos e técnicas) necessários para a intervenção de cada área específica de trabalho e à habilidade de construí-los e reconstruí-los;


  • Dimensão estética

Diz respeito à presença da sensibilidade dos indivíduos na percepção das relações intersubjetivas que se dão em seu trabalho, da perspectiva de afetividade, no sentido de se deixar afetar pelo trabalho e estar atento às manifestações dos outros como que convive;


  • Dimensão política

Diz respeito à consciência e à definição da participação na construção coletiva da sociedade e ao exercício de direitos e deveres. "Ser político é tomar partido, e tomar partido não significa apenas se declarar de acordo, de quando em quando, com as decisões concretas de um partido; significa não ficar indiferente em face das alternativas sociais, participar e produzir em relação com toada a vida civil e social." (Heller, 1982)


  • Dimensão ética

Diz respeito à orientação da ação, fundada nos princípios do respeito, da solidariedade e da justiça, na direção da realização de um bem coletivo. Alguns autores procuram indicar os motivos que levam as empresas a terem o que chamam de "preocupações éticas".
"Quatro novos desafios parecem especialmente significativos para a Ética Empresarial no mundo. [...] O primeiro é o uso das novas tecnologias de comunicação, particularmente da internet, que cria a necessidade de novas regras. O segundo é a globalização com busca de menores custos e a generalização do capitalismo, levando ao desenvolvimento de empresas em países sem regulamentações adequadas, criando concorrência desleal à empresas organizadas e que seguem critérios éticos. O terceiro é o crescimento das organizações não governamentais radicais, para as quais capitalismo, multinacionais e mesmo empresas são inimigos a destruir. E o quarto são as novas tecnologias em geral, que criam a necessidade da definição de parâmetros totalmente diferentes, como é o caso da biotecnologia, da nanotecnologia e outras." (Humberg, 2008)
Por que empresas eticamente orientadas?
"Fortíssimas pressões externas da sociedade civíl - definida como cidadania organizada e ativa, ou como conjunto de agentes articulados e mobilizados capazes de intervenção política." (Srour, 2008)
"[...] as empresas eticamente orientadas são as que geram lucros para os acionistas, protegem o meio ambiente e melhoram a vida de seus públicos de interesse. [...] Assim, ao levarem a sério esses compromissos e ao realizarem a façanha de traduzi-los em práticas, as empresas se credenciam para alcançar perenidade e boa reputação." (Srour, 2008)

"Muitas vezes assumimos os decretos, as normas burocráticas, os "curricula", os salários, como destino, tendo deles uma concepção mágica. Não buscamos, coletivamente, CONHECER e CONTROLAR as CAUSAS formais e eficientes que os produziram. Permanecemos no estagio fetichista do insulto aos males, exorcizando-os como se fossem produções extra-humanas." (Romano, 1986)

Se o gestor pensa que sua tarefa é seguir uma cartilha de ações e ignora a pessoa de seus colaboradores e a condição em que vivem, obviamente não vai aprender a pensar politicamente ou talvez vá agir politicamente em termos conservadores, se prendendo e o todo a laços do passado, ao subterrâneo da cultura e da economia. (adaptação livre da afirmação de Florestan Fernandes, 1986)

Para que o homem satisfaça propriamente suas necessidades, ele tem que libertar-se delas.

"O conceito de liberdade deve ser examinado em relação com o de autonomia, entendida como capacidade de autocontrole, de autodeterminação individual, base necessária para dar sólido fundamento à vida social. É livre quem é [...] consciente de seus deveres e direitos, e capaz de conduzir-se autonomamente na vida. Portanto, liberdade não é um dado imediato, como creem os teóricos dos direitos naturais, mas é o resultado mais importante da educação." (Betti, 1981)
"Quaisquer que sejam nossa possibilidades de liberdade, elas não poderão se concretizar se continuarmos a pressupor que o "mundo aprovado" da sociedade seja o único que existe." (Berger, 1976)