Como
uma pessoa determinada, criativa e de tamanha grandeza pode se dedicar dando
esperança àqueles que começam uma caminhada em um novo mundo cheio de
labirintos, calabouços e medo, que e o sentimento de muitos nos dias de hoje?
Há dois anos tive a honra de conhecer a Patrícia,
que é a conservadora do escritório onde trabalho e desde que ela entrou no meu
escritório e me perguntou se eu aceitaria ouvir algumas sugestões e eu disse
que sim, muita coisa mudou: para melhor!
Ela conseguiu aplicar grande parte de suas
ideias transformando o ambiente em que está inserida em um ambiente melhor e
cheio de vida. Tudo fruto de observação atenta, criatividade e vontade.
Alguns exemplos de seu esforço foram:
Lixeiras
de coleta seletiva: utilizando os frascos vazios
dos galões de produtos químicos para limpeza do escritório, caixas de suco
vazias que iriam ser jogadas no lixo, caixas de papelão que são utilizadas para
trazer os produtos de limpeza, reutilização de papel das impressoras. Ela
recolheu, guardou na dispensa e trabalhou pacientemente com todos estes
materiais para criar o protótipo, introduzir melhorias, aprovar o seu projeto e
aplicar em todas as áreas dos três andares do escritório de 1.200 m2.
Campanha
solidária: recolhendo materiais que antes eram menosprezados
como papel impresso, caixas de papel que vinham em alguns produtos comprados no
escritório, materiais que não eram utilizados há muito tempo ela reuniu uma
montanha de coisas na dispensa que quando eu vi pela primeira vez pensei que
era lixo e para a minha total surpresa ela me mostrou que tudo aquilo poderia
ser reutilizado de maneira criativa nas escolas e creches vizinhas, logo foi
solicitada aprovação ao presidente da empresa, apoio da assistente social e de
todos os empregados para auxiliarem e apoiarem o projeto.
De tempos em tempos são feitas as doações
onde escolhemos algumas pessoas no escritório que vão à escola ou creche
escolhida levar os produtos de doação.
Uma vez quando um colega escolhido retornou
da entrega de produtos doados e me procurou para conversar ele me confessou a
seguinte experiência:
“Eu nunca tinha imaginado o quanto
emocionadas poderiam ficar crianças e adultos por receberem coisas que nunca pensei
em reutilizar. Me emocionei e vou ligar para o meu filho de sete anos que está
na Itália e dizer que eu o amo e que tudo ficará bem.”
Declaração de um dos escolhidos para
participar do processo de doação.
Nos
últimos tempos a Patrícia me procurou e pediu um dos meus livros emprestado. Emprestei sem muita preocupação com o que ela poderia inventar, mas eu tinha quase
certeza que alguma coisa aconteceria depois que ela lesse o livro. Bem, ela me
procurou há uns vinte dias atrás e me pediu para ajudá-la a escrever um texto
com o objetivo de conectar a experiência descrita no livro com o seu desejo de
ensinar outras pessoas da sua comunidade a fazer diferença e a dar esperança às
crianças e jovens.
Topei
escrever com a condição de que ela me deixasse ir a uma de suas aulas na
comunidade, então o trato estava feito, logo estive na casa da Dona Antônia,
mãe da Patrícia, na comunidade vila Santa Rosa.
Como a
aula era à noite fiquei apreensivo em ter de ir até lá por ser um lugar
desconhecido e por eu não saber o que me esperava até chegar ao meu destino.
Bem, já na entrada da comunidade deixei o carro e fui acompanhado por um
rapazinho pelo beco até a humilde casa da Dona Antônia e depois de chamar ao portão
fui calorosamente recebido. Conheci a simpática Dona Antônia e também conheci a
Professora Patrícia dando uma aula de vida a umas vinte crianças: contando
histórias infantis, bíblicas e fazendo brincadeiras criativas com tampas de
garrafas, bucha de Bombril, cabeça de cebola, caixa de papelão e pano preto.
Já no final da aula as
crianças recebem uma folha de papel com um desenho para colorirem do lado de
fora da casa no beco onde atravessam pedestres, motos, bicicletas no meio das
crianças que para colorir se deitam no chão, depois de colorirem elas tomam um lanche
e voltam para suas casas.
Após ter esta experiência fiquei com o
coração apertado pela responsabilidade de transferir toda a emoção e vontade destas
pessoas em um texto que deveria receber a aprovação da Professora Patrícia.
Durante algum tempo pensei em como fazer
isto e por fim escrevi:
Um trabalho de União
O propósito de contribuir para o
trabalho na comunidade é acreditar num futuro melhor para os nossos filhos,
onde a dignidade, o respeito e o amor ao próximo sejam interiorizados e se
transformem em ações concretas e duradouras.
Olhe para a sua mão direita. Provavelmente
você teria grandes limitações em nosso mundo se não a possuísse ou ainda se lhe
faltassem os dedos, cinco, quatro ou apenas um dedo. Ter a mão direita te
possibilita fazer coisas que outro ser humano, desprovido do sentido da
percepção da importância de tê-la, poderia fazer.
Bem, uma comunidade é composta de
pessoas que se organizam sob um conjunto de regras que fazem com que o dia a
dia funcione de uma maneira orgânica. Todos na comunidade tem valor, sejam
crianças ou idosos, sejam homens ou mulheres, sejam negros ou brancos, logo o
bem estar da comunidade tem tanta importância quanto ter uma mão e dedos.
Trabalhar pela comunidade
voluntariamente traz até nós um sentimento de companheirismo, de pertencimento,
de construção de vínculos e de saber que se pode fazer diferença na vida do
outro. Ao doar o seu tempo você também traz um novo sentido a sua própria vida.
A dedicação ao outro não é trabalho de
uma única pessoa ou de um único dia, é um trabalho de vários, um trabalho
constante, de respeito ao próximo, de rompimento de barreiras e de visão de um
mundo melhor.
O que realmente importa não é a
quantidade, mas sim a qualidade e a intensidade com que você pode se doar.
Servir ao outro sem medo tem um proposito maior para a nossa vida. Ser o
personagem principal na condução de um processo de mudança na comunidade traz
para você o retorno da memória daqueles que participaram do processo.
Por exemplo, quando se criam
brincadeiras com crianças a partir de uma folha de papel em branco este
processo de criação e trabalho da imaginação pode trazer a reflexão sobre a
realidade e a cultura na qual elas estão inseridas e ao mesmo tempo
questionando regras e papéis sociais, sendo você a pessoa lembrada por aquela
criança como quem fez a diferença em sua vida.
Você é parte da comunidade e o nosso
trabalho é construir um amanhã melhor.
O dia em que levei o texto para ela
verificar e me dizer se poderia servir para os seus propósitos ela me pediu
algum tempo para pensar e daí fiquei muito apreensivo e ansioso na expectativa
de que pudesse ter construído alguma coisa que fosse útil.
Bem, após uns dois dias ela veio ao
escritório e pediu para me falar. Daí me explicou que o texto teria significado
para os seus propósitos. O que me comoveu mais em nossa conversa foi escutar
dela o quanto todos nós poderíamos deixar de lamentarmos da nossa pequenez,
superar as dificuldades, colocar um sorriso no rosto e fazermos algo a mais
para fazer com que o nosso dia seja rico, rico de felicidade, rico de nobreza,
rico de respeito. Enquanto ela falava tinha lágrimas nos olhos e um sorriso no
rosto. A professora Patrícia me ensinou neste dia o quão forte e humano podemos
escolher ser.
A Patrícia conquistou a
minha admiração e de muitas outras pessoas.
Decidi escrever esta história para promovê-la
e se possível motivar outras pessoas a refletir sobre a sua própria vida e mais
do que isto conseguir de alguma forma contribuir para o seu projeto na
Comunidade Vila Santa Rosa, que foi um dos projetos que pude ter o prazer e a
honra de conhecer.
Deixo esta mensagem para todos que puderem
de alguma forma contribuir com material didático, auxilio para o lanche das
crianças, brinquedos pedagógicos, contribuições para os dias festivos, eles
precisam também de um local mais adequado para as aulas, aparelhos eletrônicos
como TV, DVD, filmes educativos, etc.
Em média são umas vinte e cinco crianças e
adolescentes que fazem parte do projeto de três a dezessete anos de idade.
Abs,
Léo
Onde se localiza a comunidade: