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domingo, 21 de janeiro de 2018

Escreva me olhando nos olhos.

A edição No 134 da revista Filosofia traz um artigo “ A supressão autoritária da razão” que me fez refletir sobre o modo como nós temos agido nos nossos relacionamentos uns com os outros. As ferramentas que deveriam proporcionar a todos os grupos meios de reunir suas forças mentais para constituir coletivos inteligentes e dar vida a uma democracia em tempo real estão produzindo o oposto: a deterioração da essência do relacionamento no seu íntimo.
Pense no momento em que você tenha escrito ou tenha recebido um e-mail de alguém e que você não tenha tocado naquele assunto pessoalmente, talvez você nem conheça a pessoa com quem está se comunicando e queira ou não já são estabelecidas conexões emotivas naquela comunicação. Não vou entrar aqui no mérito de como atuo pessoalmente, vou me ater ao fato de que esta conexão existe. Bem, pense então em outras ferramentas, como por exemplo mensagens instantâneas ou ainda em comentários nas redes sociais, tipo facebook.
Não duvido que já tenham ocorrido mal-entendidos, arrependimento e ou ressentimentos. Entretanto, pergunto: O que é expresso virtualmente tem condições de ser expresso verbalmente e é moralmente aceito quando se encontra a outra pessoa cara a cara?
O Prof. Renato Nunes explica no artigo: "Os pudores civilizados são razoavelmente descartados na internet e assim a insanidade idiotizada pode ser expressa sem quaisquer entraves."
Refletindo sobre isto, ainda pergunto: O quanto temos nos dedicado para produzir conteúdo digno de elevar o debate ou ainda aceitar o outro sem vociferar nosso ponto de vista irrefletido?
O Prof. Renato Nunes explica no artigo: "Muitas pessoas sensatas na dimensão concreta das relações sociais dão vazão aos seus ódios virulentos diante da tela do computador, pois se consideram onipotentes em seu espaço privado idiotizado."

Um exemplo é quando se é vivida uma discussão por e-mail ou mensagem instantânea em que você sente que o clima fica quente e que a situação escapa por entre seus dedos.
O meu desejo é de que ao menos no círculo familiar nós não caíamos e não deixemos que nossos filhos caiam na ruptura afetiva por falta de comunicação real. Ainda no artigo é relatado um fato muito importante para nossa atenção:
“Quando um familiar frequentemente permanece períodos intermináveis isolado em seu quarto, incomunicável com os demais, imerso nas maravilhas do mundo virtual, é sinal de que ocorre alguma disfunção afetiva entre todos eles. (...). Esse tipo de família, em verdade, é uma solidão compartilhada travestida de comunhão feliz. ”

O que vamos fazer diante disso? ..........
 A decisão está sempre em nossas mãos.
Abraço,
Léo

domingo, 14 de janeiro de 2018

Um dia simples com meu filho

Oi,

Não sei se houve para meu pai, quando eu tinha apenas dez anos de idade ou menos, um dia simples que pudesse tê-lo marcado, pois esses momentos passam num piscar de olhos e deixam uma lembrança gostosa e de significado para nós. Não consigo me lembrar de nada assim, mas tenho certeza que todos os dias da minha infância foram especiais com  os meus pais.

Meu filho, 

Estou escrevendo isto para você e sinceramente espero que algum dia você possa ler isso, assim como fazemos hoje em dia quando abrimos as caixas com fotografias antigas. Com a inovação tecnológica isto está se perdendo, mas gostaria de alguma forma de deixar este sentimento disponível para você, e vou deixar aqui.

Este sábado foi um dia ensolarado, nós acordamos tarde e tua mãe e tua irmã decidiram ir visitar o tio na roça, daí pudemos tomar café e falar só de vídeo game e futebol (que você adora). Combinamos que você iria me dar uma força se eu fosse à academia e daí você me acompanhou e ficou, lá, sentado na recepção fazendo sinal de positivo para mim a cada vez que me via.

Quando acabei de fazer os exercícios eu estava morto de cansado, mas resolvi que iríamos comprar camisas semelhantes, como tua mãe fez para a tua irmã no fim de semana anterior e fomos ao centro da cidade, chegando lá decidimos com o máximo de objetividade:  entramos na primeira loja de frente ao lugar onde estacionássemos o carro e escolhemos uma camisa cinza para cada um... (ainda queria ter a camisa igual a tua, pois a tua tinha a estampa de um um cachorro com óculos e a minha não... camisa legal esta sua). 

Achei que era pouco e fomos procurar mais um item tipo: tal pai, tal filho. Daí parei em frente à uma ótica, descemos e escolhemos dois óculos semelhantes. Você já gostou da primeira opção num estalo. Compramos e partimos para o corte de cabelo, que já estava marcado. Na barbearia que vamos é tipo aquele ambiente que entra só homem, servem chopp e refrigerante enquanto se corta o cabelo e/ou faz-se a barba, o legal é que o bate papo é sobre futebol e vídeo-game, logo você estava "em casa" e isto me divertiu um monte. Quando chegou a vez de você escolher o teu corte de cabelo, você me lembrou que havia feito uma aposta comigo de que se fizesse dez gols nos últimos jogos do ano, você poderia escolher... você havia ganhado a aposta e eu deixei você escolher (sua mãe está brava comigo até hoje!), mas eu gostei da sua personalidade. Show! 

Quando acabamos de cortar o cabelo fomos para casa tomar banho e trocar de roupa para irmos almoçar. Almoçamos em um restaurante perto de casa "Dornas" e você todo preocupado com a alimentação balanceada de "atleta" me disse que era para escolher alimentos que tivessem no mínimo cinco cores e se fosse comer carne não podia ter gordura. Cara, você realmente leva a sério as coisas e eu não posso te dar mal exemplo, então combinamos de comer peixe desta vez e de abrir mão de refrigerantes (no combinado poderia tomar refrigerante ao menos uma vez na semana... pra não castigar demais no início). Falamos pouco, mas foi legal estar lá com você. Se lembra do nosso combinado para mandarmos bem como dois amigos boa praça: "Pra ficar maneiro tem que fazer cara de sério... hahaha, foi bem legal".

Voltamos para casa, você para o tablet (ver aqueles vídeos do manicraft, que eu não tolero ver) e eu fui dormir um pouco. Quando acordei, fui para a varanda tomar um pouco de sol e continuar a ler meu livro de cabeceira enquanto você pegou uma cadeira e ficou ao meu lado em silêncio ouvindo música usando fone de ouvido e assim ficamos até ao entardecer quando tua mãe e tua irmã chegaram.

Meu filho, este dia foi fantástico por não termos revolucionado o mundo. Nós simplesmente estávamos juntos e aproveitando o dia de uma maneira muito simples e digna.

A vida é curta para que não contemplemos todos os momentos, mesmo aqueles que achamos não ter significado algum e agora você sabe qual foi o dia que me marcou quando você tinha apenas dez anos de idade.

Forte abraço do papai, amigão.

Fica bem,
Léo