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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Uma abordagem construtivista usada no treinamento de Gestão de Projetos

Um dos desafios de ministrar um treinamento de curta duração de gestão de projetos para um público heterogêneo é a decisão pela abordagem, tradicional ou construtivista [1]. No caso da abordagem tradicional os casos práticos de conexão entre a teoria e a prática poderiam se perder e o estudante que tem algum conhecimento do tema poderia se distanciar ou até mesmo se desinteressar. Já por outro lado, na abordagem construtivista, a exigência sobre o estudante causa estranheza por não ser, geralmente, a abordagem comumente utilizada ao longo da vida acadêmica da maioria de nós alunos ou professores.

A questão colocada aqui é: "Seria possível fazer com que o treinamento em gestão de projetos fosse dinâmico, assertivo e transmitisse o verdadeiro propósito de se gerir projetos levando o foco da aprendizagem para o estudante, ao invés de se concentrar no instrutor?"

Fiquei tentado em construir o treinamento com o objetivo de responder positivamente à questão colocada com o forte propósito de transmitir o que mais importava: fazer de nossas atividades e por que não de nossas vidas em projetos divertida, simples, rápida e barata.

O treinamento é voltado para profissionais graduados de nível superior, Administradores, Supervisores, Coordenadores, Gerentes, Superintendentes, Líderes de equipe, Diretores e profissionais interessados em adquirir ou atualizar conhecimentos em gestão de projetos para realização de ações estratégicas nas organizações. Tive o prazer e a honra de ministrar este treinamento em agosto deste ano na cidade de Uberaba para uma equipe que tinha a seguinte formação:


Figura 1 - Mapa da equipe que recebeu o treinamento.

Tenho alguns objetivos particulares em escrever este texto que são a ampliação do meu conhecimento, demonstrar os aspectos gerais do método usado e de receber críticas e sugestões diversas, sendo assim busco ser uma pessoa e um profissional melhor.

Fiz pesquisas sobre o tema e me chamou a atenção a reportagem da Paula Adamo Idoeta da BBC Brasil [2]: “Oito coisas que aprendi com a educação na Finlândia”.

A reportagem trouxe inspiração para o desenvolvimento deste trabalho, tomando como base a análise de um dos sistemas de ensino mais elogiados do mundo, o sistema de ensino da Finlândia. Portanto a ligação entre projetos reais vivenciados por mim e o conhecimento teórico que os alunos tem por objetivo receber, fez com que fosse possível desenvolver a abordagem com foco na seguinte tese: Ao professor cabe mediar a interação na sala de aula e saber quais metas têm de ser alcançadas no projeto.

O treinamento é dividido em três etapas e composto pela apresentação de exemplos práticos, pela elaboração de respostas à questões inusitadas e pela crítica ao óbvio, no entanto é totalmente aderente às melhores práticas de gerenciamento de projetos veiculadas pelo PMI (Project Management Institute).

Figura 2 – Exemplo de projeto acadêmico baseado em projeto real 
(respeitando todos os direitos de confidencialidade)

Além disso, são realizados simulados eletrônicos onde é possível verificar a aderência do conteúdo e o controle do aprendizado em tempo real. Assim que se finaliza o simulado é apresentado o resultado geral para a equipe, discutidas e esclarecidas todas as questões fazendo com que o estudante reflita sobre seu desempenho e sobre o projeto.

Figura 3 – Exemplo do resultado do simulado eletrônico que é verificado imediatamente após a sua conclusão.

A primeira etapa é a exploração teórica dos processos de gerenciamento de projetos: iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle e encerramento. Também se faz a integração deste conteúdo com as dez áreas de conhecimentos de gerenciamento de projetos. 

A atuação ativa do aluno na elaboração de documentos como se todos pertencessem à empresa hipotética formada pela turma treinada é uma forma de tornar o cenário em que o estudante está inserido o mais dinâmico possível e também crível e realístico.


Figura 4 – Exemplo de documentos fornecidos para que o estudante possa elaborar seu projeto no treinamento. São padrões usados em grandes empresas e que o aluno pode levar para o seu ambiente de trabalho.

Na segunda etapa a partir da escolha, realizada pelo instrutor, do projeto a ser desenvolvido pelos alunos se constrói as bases para o aprendizado. A escolha do projeto deve permitir a construção de uma dinâmica conectada à terceira etapa, que viria sucessivamente. 

Ainda nesta etapa é necessário que seja construído o plano de desenvolvimento do projeto, sendo assim se realiza a iniciação e o planejamento do projeto.

No caso da equipe de Uberaba foi escolhido um brinquedo e toda a contextualização e interconexão entre a teoria e a prática foi realizado com ele. Desde a elaboração de um mapa mental utilizando o software MindMeister [3], EAP (estrutura analítica do projeto), redação do máximo de informação sobre o projeto: o que é o projeto, o como fazê-lo, as restrições, as premissas, entre outras informações. Fazendo com que se vislumbre o máximo possível as áreas de conhecimento antes da execução em si.

Figura 5 – Brinquedo utilizado para a realização do projeto.

Na terceira e última etapa se deu seguimento ao desenvolvimento do projeto e neste ponto o instrutor entrega ao time o plano de desenvolvimento do projeto elaborado iniciado na etapa dois e completado com informações adicionais para que eles possam executar o projeto e certamente efetuar as iterações, registro das mudanças, compartilhamento de ideias, realização do monitoramento e controle do projeto, além disso, realizar o término do encerramento do projeto.

Figura 6 – Documentação elaborada pelo instrutor a partir do que foi realizado na segunda etapa e completado com informações necessárias para o desenvolvimento da terceira e última etapa.

Como o projeto é inusitado e seguramente único, todos os requisitos e planejamentos desta etapa do treinamento são realizados com base no objeto escolhido. No caso da equipe de UBERABA foi feita a divisão em sub-equipes que se responsabilizaram pelo desenvolvimento de algum item e cada sub-equipe trabalhou como um fornecedor de parte do produto à uma empresa maior denominada montadora que por sua vez deveria certificar a montagem final, testes e aprovação do conjunto completamente montado e pesado. Deveriam ser levados em consideração requisitos importantes de massa, custo e tempo. 

A divisão dos estudantes foi feita em quatro sub-equipes:
  • Cabine
  • Chassi
  • Caçamba anterior
  • Caçamba posterior

Nesta etapa era necessário elaborar o manual de montagem do brinquedo:


O tempo era uma restrição e cada hora de trabalho da equipe equivalia a um mês de desenvolvimento.

A massa do brinquedo era uma restrição para que fossem feitos os testes requeridos pela qualidade. Para que fosse feita a dinâmica providenciei para os estudantes massinha de modelar [4], balança e etiquetas.

Para maior aderência ao processo foi estabelecido o custo horário da utilização da mão-de-obra, além do custo do veículo e custo da massa que deveria ser adquirida a medida que fosse necessário. Sendo que uma premissa da empresa era que todos os fornecedores trabalhassem para que o veículo fosse o mais barato possível, entregue dentro do prazo e respeitando os requisitos dos testes, logo isto necessitaria de comunicação, organização e integração.

O instrutor também faz com que o clima, ou melhor, o ambiente de projetos e a interligação com o ambiente empresarial aparecesse, sendo assim que faz solicitações de mudanças no escopo ou no gerenciamento de tempos em tempos, além de pressão para obtenção de informações para a elaboração de relatórios que deveriam ser levados à diretoria.


Figura 7 – Teste de estabilidade é feito considerando que as rodas posteriores do carro deveriam permanecer apoiadas ao solo após a montagem da cabine que tinha massa entre 380 e 450 gramas.


Figura 8 - Teste de estabilidade é feito considerando que as rodas posteriores do carro deveriam permanecer apoiadas ao solo após a montagem da cabine que tinha massa entre 380 e 450 gramas. Teste OK!

Um exemplo foi a realização do teste de retenção, sendo que foi dada uma lixa de unhas à equipe para desgastar a trava mecânica que há na parte posterior do brinquedo os requisitos do teste e o modo de fazê-lo eram: 

Teste de abertura da caçamba posterior: a. Montando a caçamba anterior com a caçamba posterior b. Virando-a de "cabeça para baixo" c. Apoiando-a em uma superfície plana d. Efetua-se o teste.
# ABERTURA = O teste é feito utilizando 120 gramas de massa que quando colocada na parte inferior da caçamba posterior exerce peso para que seja aberta a caçamba sem que seja feito esforço externo adicional.
# CARGA DE RETENÇÃO = O teste é feito utilizando 80 gramas de massa que quando colocada na parte inferior da caçamba posterior exerce força e a caçamba posterior não poderia se abrir.

Vídeo 1 - Teste de retenção. Teste OK!

Figura 9 – Projeto final testado, pesado e certificado.

Figura 10 - Projeto final testado, pesado e certificado.

A abordagem usada neste, curto, treinamento permitiu transmitir o principal propósito de se gerenciar projetos: fazer atividades simples, rápidas e baratas. Acredito que aqueles que participaram do treinamento tenham uma visão diferenciada que lhes proporciona uma melhor administração e planejamento de ações para realização de projetos nas suas organizações.

Acredito que a questão que motivou esta abordagem tenha sido respondida positivamente, mesmo que possam e devam ser feitas adaptações e melhorias que percebi ao longo do treinamento. Após o encerramento recebi ótimas críticas e a devolutiva da equipe foi excelente para a reflexão sobre o tema.

Foi feito um check list de verificação de escopo do treinamento, sendo este o resultado:

Tabela 1 – Check list de verificação do escopo do treinamento.

Acredito que a experiência tenha sido tão rica para a equipe quanto foi para mim.


Figura 11 – Equipe de UBERABA (MG)

Os alunos foram levados para fora da sua zona de conforto, por terem sido levados a fazer coisas que não são aderentes à abordagem tradicional, todavia o que demonstraram nos simulados de aderência de conteúdo foi um resultado superior ao esperado.
"Professor, parabéns de verdade, foi muito bom esse período que esteve com a gente. Já gostava do tema, passei a gostar ainda mais. A aplicabilidade foi muito boa e os exemplos utilizados também foram ótimos."
Aluno da equipe de Uberaba (MG)
Atenciosamente, 
Prof. Leonardo DAVID, PMP