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sábado, 2 de janeiro de 2021

O passaporte

Estávamos fazendo o desenvolvimento de um produto que insistia em não passar em um dos ensaios de validação especificados do cliente. 
Fizemos várias melhorias no processo e produzimos amostras, entretanto a estratégia era levar os produtos e entregá-los nas mãos do doutor que os estava avaliando em Mladá, Czech Republic, além é claro de poder ter alguns esclarecimentos do próprio autor do requisito. 
Antes de chegar ao cliente programei de estar na matriz da minha empresa para uma análise no laboratório de lá e então seguir para o destino.  
Tive oportunidade de encontrar colegas e de aprender mais sobre as particularidades do processo e sobre os requisitos específicos do cliente no mercado europeu. 
Era março de 2017 não tinha neve e o céu estava limpo e ensolarado, para mim estava frio a ponto de eu usar uma boa blusa. Estive na Itália por uns dias e depois peguei um voo para me dirigir a Mladá. 

Um café da manhã muito gostoso e depois fui para meu compromisso. Ao chegar para a reunião me encontrei com o engenheiro e cliente da montadora brasileira que também foi à reunião. Nos cumprimentamos e começamos a conversar. Ele me contou que estava na Alemanha e teve que dirigir mais de seis horas para chegar ali. Falamos também do quão desafiador era este desenvolvimento, daí fomos até à recepção do Headquarter e a secretária pediu crachá e passaporte para conferência e liberação, assim como fez com ele. Nos devolveu e nos liberou. Em poucos instantes estávamos na sala com o doutor e outros engenheiros, apresentei as amostras que havia levado e discutimos sobre o desenvolvimento e como as validações foram estruturadas. 

Concluímos as discussões e saindo fomos almoçar juntos onde experimentei um prato típico da região "Svičkova" tipo uma sopa de carne cozida com pão. Acabando eu peguei o meu caminho e ele o dele. 

Mais tarde naquela noite quando eu já estava cochilando o telefone tocou e para a minha surpresa era meu colega. Ele me perguntou onde estava meu passaporte, dai eu falei que estava na bolsa. Ele perguntou de novo se eu podia conferir, daí já comecei a gelar. Ao pegar o passaporte vi que estava com o passaporte dele! Já xingamos em uníssono: "Aquela vaca...!" 😤

Era 11:00 PM e meu voo era no dia seguinte às 6:00 AM. Ele disse que já tinha chegado à Alemanha e se deu conta da troca quando chegou, então ele estava pegando estrada naquele momento e voltando para me encontrar. Tomei a decisão de fazer check out e pegar um taxi para encontrá-lo no caminho, liguei para ele e disse o que faria dai estava tudo combinado e comecei arrumar as minhas coisas o mais rápido que pude. 

Fiz o check out e pedi a recepcionista do hotel para me chamar um taxi, ela o fez e me falou que o taxista não falava inglês, logo me fez o favor de traduzir para ele o plano. O pedido do taxista foi de receber em dinheiro pois não trabalhava com cartão, daí pedi para ela explicar que ele deveria me levar à um caixa eletrônico para que eu retirasse a grana e pudesse pagá-lo. Eu já estava com mal pressentimento com tudo isto, mas combinamos, entrei no carro e iniciamos a viagem.

Paramos em um caixa ATM em um lugar que me deu a impressão de estar fazendo algo ilegal, apesar de não estar fazendo nada demais, mas a atmosfera era estranha com um caixa no meio da rua em um lugar mal iluminado e eu fazendo mímica para o taxista para me certificar do valor que eu tinha que pagar. Quando saquei os CZK 1.100 veio aquele bolo de dinheiro e fiquei ainda mais ansioso. Entreguei a grana para o homem e continuamos na estrada.

O meu colega me ligou de novo e me perguntou onde eu estava. O taxista parecia estar disputando o grand turismo na Europa, e passava por cada lugar mais estranho que o outro. Eu não sabia ao certo e ele me falou que eu devia explicar o taxista para não chegar a fronteira com a Alemanha. Eu expliquei para ele que não falava a língua do taxista, daí ele pediu para eu colocar no viva-voz e ele começou uma gritaria que o taxista respondeu à altura e foi a mesma coisa que estar no meio entre dois torcedores de uma final de campeonato defendendo cada um o seu respectivo time, enquanto o carro ganhava mais e mais velocidade. Eu fiz o nome do pai, fechei os olhos e continuei segurando o telefone enquanto os dois gritavam.

O meu colega começou a gritar meu nome e eu tirei do viva-voz, dai ele me disse para xingar o taxista e eu falei um dois palavrões com o homem em português que me agradeceu com um sinal de positivo e continuou a acelerar. Bem, o meu colega disse que estava tudo indo bem e que deveríamos nos encontrar em uma marginal próximo de um posto de serviços antes da fronteira.

Bem, percebi onde que havíamos chegado quando o taxista parou de uma vez desceu e fez sinal para eu aceitar um cigarro. Eu desci e fiquei olhando a auto estrada quase vazia. 
Em poucos minutos vi os faróis de um carro vindo a uma velocidade incrível, pensei até se naquele lugar era permitido trafegar em alta velocidade assim, quando o carro pegou a marginal  e veio em nossa direção... o taxista jogou o cigarro fora e começou a dar uns passos para trás eu fiz o mesmo, saindo de perto do carro, pois aquele outro não estava com sinal de que iria parar sem causar um acidente.  Foi quando escutei os barulhos de freio e pensei comigo "ele vai bater"... quando o carro parou a poucos metros do taxi, piscou os farois e buzinou. Meu colega desceu do carro e me disse: "Esses freios são bons!" Ele gritou algo com o taxista, o cumprimentou como se fossem amigos antigos e depois falamos sobre a troca do passaporte, destrocamos os documentos, conferi bem e cada um voltou ao seu destino.

O taxista me levou ao aeroporto em Praga e tentei dormir nos bancos, mas a cada hora que passava um segurança ficava ansioso, pois os vi antes retirando pessoas do aeroporto aparentemente por estarem tentando de refugiar do frio da madrugada.

Consegui voltar para casa com uma boa história e também com um novo amigo que compartilhou a história com outros colegas que dão risada até hoje. É claro que esta história ganhou outras versões dentro do escritório. 😀


Abs,

Léo

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